segunda-feira, 3 de junho de 2013

BARRAGEM DE SANTA CLARA 2 - A INAUGURAÇÃO


A INAUGURAÇÃO DA BARRAGEM DE SANTA CLARA
No dia 11 de Maio de 1969; num dia soalheiro e de calor intenso, foi inaugurada a obra mais imponente, construída nos concelhos de Odemira e Ourique; na altura com a denominação de Barragem Marcello Caetano e posteriormente como Barragem de Santa Clara, denominação essa que ainda hoje se mantém.
Nos dias que antecederam este importante acontecimento, como é óbvio o motivo de todas as conversas entre os habitantes da região, não podia ser outro; tanto pela curiosidade, como pelo prenúncio de um dia de “descanso” (a vida era dura nessa época) e convívio.
No fundo existia nas pessoas um misto de curiosidade e de ansiedade; sentimentos esse perfeitamente compreensíveis e justificáveis, porque praticamente não havia família que não tivesse tido alguém do seu agregado familiar ligado à construção da mesma, fazendo com que existisse alguma familiaridade com o empreendimento a inaugurar.
Nesse dia todos vestiram a melhor roupa que tinham, e em jeito de romaria, rumaram para a inauguração da Barragem de Santa Clara, quer fosse a pé ou no meio de transporte que estivesse mais à mão de semear.
Ainda hoje recordo com nostalgia esse acontecimento ao qual assisti.
Da altura retenho que foi um dia completamente diferente dos outros em que não havia restrições para ninguém e em que toda a população foi chamada a assistir. Poderei dar um pequeno exemplo de uma das restrições que foi levantada para esse dia em que as autoridades policiais permitiam que o povo se pudesse deslocar de qualquer forma para o evento, inclusive em camionetas de transporte de mercadorias, quer fosse de pé, quer fossem sentados (facto que era proibido e ainda hoje continua a ser) e como se isso não bastasse davam toda a ajuda e colaboração aos “prevericadores”, quer a nível da circulação como do estacionamento, com a maior das simpatias; facto que não era normal para a época, dado que bastava ouvir-se falar em “Guarda” e todos ficavam assustados desde os miúdos aos graúdos.
Foi sem dúvida mesmo até aos dias de hoje, o momento em que foi possível vislumbrar tão grande número de agentes de autoridade juntos e vestidos a rigor com “fardas de gala” na região. Terá sido igualmente até aos dias de hoje, o maior acontecimento mediático do género em termos de multidão realizado no concelho de Odemira e que por certo, quer queiramos quer não, marcou a inauguração do empreendimento mais estruturante realizado na região, independentemente das opiniões críticas ou não que possamos ter acerca do “antigo regime”. Nesta cerimónia estiveram presentes o Presidente da República da altura, Almirante Américo Tomás, e o Presidente do Conselho, Marcelo Caetano para além de outras altas individualidades a nível nacional e regional.
Nos dias seguintes à inauguração, não deixou de ser engraçado ouvir os comentários de quem esteve presente em que e que me lembre, apenas se falava que a vitela assada estava óptima e coisas do género, nunca tendo ouvido substanciais comentários relativamente à importância da barragem em si.
 
POSSÍVELMENTE NEM OS MAIS OPTIMISTAS E ESCLARECIDOS, SONHARIAM NA ALTURA COM AQUILO QUE A BARRAGEM DE SANTA CLARA VIRIA A SER, VOLVIDOS 44 ANOS SOBRE A SUA INAUGURAÇÃO.

BARRAGEM DE SANTA CLARA 1 - A BARRAGEM EM SI

 



 
 
Há situações, obras e acontecimentos, que marcam as sociedades e simultaneamente prevalecem essas referências por muitos e longos anos, independentemente do contexto temporal ou político que os provocaram.
  Neste contexto, insere-se sem dúvida a Barragem de Santa Clara (Ex Barragem Marcelo Caetano); magnífico espelho de água, esse bem tão essencial e cada vez mais escasso, fazendo com que esta para além da beleza que exala no meio de uma paisagem soberba, seja igualmente uma reserva estratégica de água de extrema importância nos tempos que correm.
  A Barragem de Santa Clara é um enorme espelho de água (na altura da construção era uma das maiores do país), estando situada na Bacia Hidrográfica do Mira, e integrada no Aproveitamento Hidroagrícola do Mira, cuja gestão está a cargo da Associação de Beneficiários do Mira. A sua inauguração ocorreu no dia 11 de Maio de 1969, na qual estiveram presentes as mais altas individualidades nacionais e regionais, para além duma enorme massa de povo anónimo, proveniente dos mais diversos locais.
  A Barragem de Santa Clara beneficia uma área de rega de milhares de hectares concelhos de Odemira e Aljezur; estando dotada de uma rede de rega primária, uma rede secundária  e de redes de enxugo, com uma extensão de centenas de kilómetros.
  São sem dúvida, números que falam por si, sendo duma importância extrema tanto para a região e para o país em si, e, que vão muito além da reserva estratégica de água que representam.
  Numa região pobre como é esta do interior do concelho de Odemira; assolada pela desertificação e escassez de recursos, é uma riqueza, que me atrevo a dizer que será a maior na região.
  Considero a Barragem de Santa Clara como sendo a obra mais estruturante, realizada até hoje no concelho de Odemira, apesar da mesma ter sido construída nos tempos do “antigo regime” do Estado Novo, integrada no Plano de Rega do Alentejo.
  Quando nos dias de hoje, apenas se dá valor ao que foi feito após o 25 de Abril de 1974, canso-me de olhar à minha volta e tento vislumbrar grandes obras e infraestruturas realizadas na região e não as vejo.
   - Estarei cego?
   - Não estou, não! Afinal as grandes obras por aqui chegaram por antecipação, creio eu, ou talvez não.

 
  A Barragem de Santa Clara, tal como todas as grandes obras, teve os prós e os contras de todas as outras do seu género, que se fizeram e se fazem no presente, como é o exemplo da Barragem do Alqueva (o primeiro projecto data precisamente dos tempos do Estado Novo). Se no Alqueva, foi necessário inundar a Aldeia da Luz e transferir os seus habitantes, em Santa Clara, aconteceu precisamente a mesma situação com as centenas de habitantes que residiam em “montes” dispersos pela zona alagada, com a diferença que em vez de irem para uma aldeia nova, acabaram por se instalar em aldeias e vilas das redondezas (Ourique, Santana da Serra, Santa Clara, Sabóia, etc).
  Se em Alqueva se desenvolveram novos negócios (restaurantes, lojas, residenciais, etc), durante o período de construção, com a vinda de trabalhadores de outras regiões, em Santa Clara o cenário repetiu-se e não será por acaso que Santa Clara-a-Velha, foi das primeiras localidades da região a ter uma estação de correios e um sem número de casas de pasto, lojas e “vendas” (tabernas).
  São isto, exemplos dum passado relativamente distante, que no fundo preparou o futuro, assente em algo tão simples (parece), que foi a construção de uma barragem que viria anos mais tarde a ser uma fonte de desenvolvimento para uma região. Todo esse desenvolvimento tem um preço, que uma minoria tem que pagar em prol de uma maioria e essa maioria acabam por ser todos aqueles que de forma mais ou menos directa usufruem das águas desta albufeira.
  Arrisco-me a afirmar, que a maior fonte de emprego no concelho de Odemira, provém precisamente da gestão e do aproveitamento da água que daqui resulta de forma mais ou menos directa.
  Para além da rega, esse bem tão precioso que é a água, serve ainda para fazer o abastecimento público da maioria das populações do concelho de Odemira e ainda o abastecimento para fins industriais para as minas de Neves Corvo (as maiores minas de cobre da Europa), situadas no concelho de Almodôvar e pertença da empresa Somincor.
  Apesar de anos de seca que ocorreram num passado recente, a nossa dita albufeira, nunca atingiu um nível de falta de água crítico, mantendo-se firme como reserva estratégica de água.
  É igualmente importante referir o aproveitamento desta albufeira para fins turísticos, onde a parte mais visível é a sua pousada (integrada nas Pousadas de Portugal), bem como em termos lúdicos a parte mais visível são as provas de pesca ao achigã (embarcada).
  Na minha opinião pessoal, julgo que existe um fraco aproveitamento das reais capacidades em termos turísticos que esta albufeira detém, talvez as coisas mudem nos próximos anos, pois a região bem o merece.

 
  Porque o interesse nacional e regional (e não só) está acima de tudo, gostaria de deixar duas perguntas, que não são mais que um convite à reflexão.
   - Alguma auto-estrada traria mais benefícios ao concelho de Odemira, do que aqueles que esta Barragem trouxe?
   - Quando as obras são estruturantes, interessará as ideias políticas de quem as fez, ou o valor que elas representam em termos de mais-valias para o país?
 
 

FESTA DA PADROEIRA DE LUZIANES-GARE 2013


02 DE JUNHO DE 2013 FESTA DA PADROEIRA SANTA RITA DE CÁSSIA

Realizou-se no passado domingo, 02 de Junho de 2013, a festa da Santa Padroeira de Luzianes-Gare.
Mais uma vez Santa Rita de Cássia saiu da capela, para abençoar a terra da qual é padroeira, bem como os seus fiéis devotos.